por Érico San Juan
Era um tempo pré-internet, em que a lição era escrita com lápis e borracha. Com os mesmos instrumentos, eu rabiscava uns garranchos que mais tarde chamaria de histórias em quadrinhos. Assim que tomei jeito e parei de atrapalhar meu mano, nos tornamos os primeiros alunos das nossas turmas.
A primeira pessoa de quem mais gostamos no mundo não é pai, nem mãe ou irmão, muito menos irmã, amante, namorada ou patroa. É a gente mesmo, principalmente quando usamos a primeira pessoa num texto. E já que esse parágrafo começou com nariz de cera e corre o risco de acabar com nariz de palhaço, vou me apresentar.
Meu nome é Érico San Juan, tenho 34 anos. Sou natural de Piracicaba, com sotaque e tudo. No começo da minha vida, lá pelos seis anos de idade, ficava na mesa da cozinha atazanando a paciência do meu irmão mais velho, que tentava fazer a lição de casa.
Érico, perseguindo palavras, criando imagens e nos comovendo com seu texto |
Para os tímidos que não tinham vocação para craques da bola, desenhar até que era um bom negócio. Escrever, então, era o paraíso. As palavras caíam bem no papel, menos na boca do garoto que tinha vergonha até de pedir à professora para ir ao banheiro. No entanto, com a palavra escrita, dava para ir ao banheiro, ao deserto do Saara, ao Nordeste, à Lua.
A companheira timidez ajudava na desova de gibis nas folhas de caderno, nas primeiras tiras publicadas em jornal, nas exposições de quadrinhos, nas primeiras oficinas de arte, na edição de livros e jornais de humor, nas caricaturas feitas em eventos e nos cursos para professores. No meio desse turbilhão, palavras datilografadas e depois digitadas sobre acontecimentos do dia a dia, artistas da canção, resmungos sobre a vida. Publicados em jornais, sites, livros e blogs.
Se uma imagem vale mais que mil palavras, o redator dessas linhas sempre perseguiu essas palavras para valorizar sua imagem. E gostou da brincadeira.
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